Por Miguel Barreiras
Numa visita de apenas 1 hora, com recurso a observação e recolha de informação junto de alguns trabalhadores, é possível realizar uma avaliação bastante acertada do grau de eficiência e do potencial de melhoria que uma unidade fabril pode ter. Vejamos como:
Será seguramente consensual afirmar que uma fábrica eficiente é aquela que se caracteriza pelos seguintes determinantes:
- Utilização eficiente dos recursos;
- Elevada qualidade final dos produtos;
- Níveis de produtividade elevados;
- Baixas taxas de desperdício;
- Elevados índices de motivação;
- Elevada satisfação do cliente;
Assim sendo, o que temos de garantir é que na nossa visita identificamos os elementos que nos permitam avaliar a situação atual, quais as forças e franquezas da unidade fabril no que respeita aos aspetos enumerados e concluir se existe ou não potencial para os melhorar.
Este trabalho de observação pode ser subdividido em 10 categorias que cobrem a generalidade dos aspetos a validar:
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Atenção ao cliente
Logo no primeiro contacto, a disponibilidade com que os trabalhadores explicam as tarefas que fazem, com que finalidade as fazem, o conhecimento que demonstram dos processos de fabrico, o orgulho e o grau de satisfação com que o transmitem, é revelador do grau de eficiência do processo produtivo.
Significa que a gestão tem o cuidado de transmitir a estratégia, garantir que os processos estão organizados de forma clara e inequívoca e que as equipas se encontram motivadas.
Numa unidade produtiva bem gerida, a satisfação do cliente e o cumprimento de prazos de entrega devem estar no topo das prioridades.
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Segurança, limpeza e arrumação do espaço
Uma unidade fabril para ser eficiente deverá estar bem organizada, arrumada e limpa. As existências devem ser fáceis de encontrar e contar. Devem igualmente ser transportadas ou manuseadas de forma segura e eficiente. As regras de segurança devem estar visíveis e devem ser cumpridas. O espaço deve estar bem iluminado, a qualidade do ar deve ser boa e os níveis de ruído baixos ou controlados.
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Sinalética e informação
O recurso a sinalética e elementos visuais que indiquem e guiem os fluxos dos materiais e da produção, as instruções de trabalho, os horários e os planos de trabalho afixados de forma clara, a cores e se necessário com recurso a fotografias para uma identificação mais rápida, são elementos indutores de produtividade e revelam uma gestão eficaz.
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Ritmo de montagem
O ritmo de produção deve ser constante e deve-se observar uma fluidez ao longo do processo produtivo. Se determinadas fases da montagem estão paradas ou se em determinadas fases se verifica uma acumulação de produtos em vias de fabrico, pode significar que os processos não estão bem desenhados, que os recursos não estão corretamente alocados ou que os níveis de serviço dos fornecedores não estão a ser cumpridos ou não são os necessários. Alguma informação ou clarificação adicional pode ser obtida questionando diretamente os trabalhadores no local.
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Utilização do espaço e movimentação dos produtos e mercadorias
Idealmente, os produtos em montagem ou produção e as mercadorias devem percorrer distâncias curtas dentro da fábrica. Se isso não acontece, verificando-se um constante vai e vem de mercadorias e produtos, significa muito provavelmente que o fluxo do processo produtivo ou o layout da fábrica não estão desenhados de forma eficiente. A proliferação de empilhadores elétricos em detrimento de porta paletes manuais é um bom indicador disso mesmo, ou seja de que as distâncias de transporte dos produtos dentro da fábrica são grandes, o que muito provavelmente representa desperdício.
Por outro lado, os materiais de produção necessários para a produção em curso assim como as ferramentas necessárias devem estar “à mão” e arrumados na zona de montagem.
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Níveis de existências e de produtos em vias de fabrico
Níveis elevados de existências, sejam matérias-primas, produtos intermédios ou produtos finais, é sinónimo de ineficiência, pelo capital empatado, pelo espaço ocupado e pelos riscos de obsolescência e de mercado associados.
Por outro lado, um nível elevado de matérias primas ou de produtos intermédios poderá indiciar também uma relação pouco eficiente com os fornecedores.
Já no que respeita aos produtos em vias de fabrico, conforme já se referiu, a sua acumulação entre fases de produção ou montagem poderá ser sinónimo de que existem ineficiências ao nível do processo de fabrico.
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Condição e manutenção de máquinas, equipamentos e ferramentas
Pelo estado de conservação e pelos registos de manutenção de máquinas, equipamentos e ferramentas consegue-se perceber a atenção e importância que são dadas pela gestão e trabalhadores a um bom e regular funcionamento da operação.
O recurso a uma manutenção preventiva evita tempos de inatividade e torna o processo mais produtivo. Neste caso a observação pode ser facilmente complementada pelo testemunho dos trabalhadores.
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Gestão da complexidade do processo produtivo
É importante que a gestão implemente mecanismos de gestão, controlo e redução da complexidade do processo produtivo. Quando este é complexo, como, por exemplo, quando pode dar azo a erros ou utilização errada de componentes, é fundamental, em prol da produtividade e da minimização de falhas, implementar ajudas visuais ou físicas que orientem os trabalhadores na escolha correta da componente ou peça.
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Integração da cadeia de abastecimento
Uma unidade fabril eficiente, que tem como objetivo manter os seus custos controlados mas com uma elevada qualidade, trabalha normalmente em parceria e com grande cumplicidade com um número relativamente reduzido de fornecedores. Quando tal não se verifica, como acontece, por exemplo, quando uma empresa recorre a vários fornecedores de uma mesma peça, é muito mais difícil garantir a consistência ao nível da qualidade do produto final.
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Atenção à qualidade
Uma unidade fabril que se preocupe com a qualidade e a produtividade terá seguramente implementado um programa de qualidade. Tal pode ser facilmente comprovado pela existência de informação afixada, nomeadamente relativa aos objetivos da empresa, à performance atingida, níveis de produtividade, planos de trabalho, níveis de serviço, quantidades de desperdícios, instruções de serviço, ações de formação, etc.
Este exercício pode ser conduzido individualmente ou em equipa (2-3 pessoas), em que preferencialmente uma delas tem conhecimento concreto do setor em causa. Dessa forma, cada elemento da equipa pode focar-se em duas ou três das categorias mencionadas, devendo reunir-se imediatamente após a visita para produzirem em conjunto o diagnóstico final.
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