A qualidade da gestão enquanto determinante da produtividade das empresas

Miguel Barreiras Consultoria, Gestão

Por Miguel Barreiras

Sendo certo que a produtividade das empresas é determinada por um conjunto variado de fatores internos e externos, um estudo citado pelo jornal Expresso há umas semanas atribuía à qualidade da gestão uma das principais razões para o baixo nível da produtividade das empresas portuguesas e para que este teime em não aumentar de ano para ano.

Umas semanas antes, um conceituado gestor português afirmava num programa de entrevistas da SIC Notícias, com a frontalidade que lhe é reconhecida, que uma das explicações para a grande diferença da produtividade dos trabalhadores portugueses em Portugal e no estrangeiro reside na falta de qualidade dos gestores das empresas portuguesas.

Assim, se até há uns tempos se atribuía esse fenómeno ao próprio trabalhador, mais relaxado em ambiente conhecido e familiar e mais cumpridor em ambiente estranho e hostil, hoje parece consensual que o problema reside sobretudo na fraca qualidade da gestão.

Tal facto nem será de estranhar tendo em conta que cerca de 99% das empresas que compõem o tecido empresarial português são micro e pequenas empresas, que tecnicamente se caracterizam por empregar até 10 ou até 50 trabalhadores, respetivamente, e que uma grande fatia deste universo corresponde a empresas de base familiar em que os respetivos gestores têm níveis de formação de gestão baixos ou praticamente inexistentes.

Ora gerir uma empresa ou um negócio significa antes de mais organizar de forma eficiente os recursos que estão à disposição e faz-se essencialmente a três níveis: estratégia, estrutura/pessoas e processos.

Estratégia

A definição de uma estratégia clara, complementada com um conjunto de objetivos de curto, médio e longo prazos e consubstanciada num plano estratégico plurianual é fundamental para que a empresa como um todo tenha um rumo bem definido e do conhecimento de toda a organização. Só com um plano bem definido e com objetivos concretos é possível aferir e validar se o caminho que está a ser seguido corresponde àquele que foi traçado e, caso se verifiquem desvios, introduzir as correções necessárias ou, em casos extremos, alterar o próprio rumo definido inicialmente.

O mercado está em constante mutação, pelo que a continuidade do negócio depende da capacidade de reagir às mudanças e não se coaduna com uma gestão estática cuja preocupação fundamental é seguir a linha e os padrões da geração anterior.

Estrutura/pessoas

Uma estrutura organizacional, para além de clara e lógica, deverá ser adequada ao negócio em causa.

O ponto de partida deverá ser uma reflexão acerca do tipo de funções que efetivamente são necessárias, as quais devem ser definidas e comunicadas de forma clara para evitar equívocos, duplicações ou ineficiências.

Por sua vez, a estrutura deverá ser arquitetada de forma a permitir que as várias funções interajam da forma mais eficiente. A estrutura é assim como um “esqueleto” que dá sustento às funções (“os órgãos”) permitindo que estes funcionem em sintonia.

Tão ou mais importante do que o desenho organizacional é a organização dos recursos humanos. Recrutar, gerir, motivar e reter pessoas é complexo e é muitas vezes descurado. Contudo, uma gestão eficaz de recursos humanos é fundamental para manter níveis elevados de motivação e satisfação das pessoas e, por conseguinte, níveis desejáveis de produtividade. Sistemas de avaliação de desempenho, modelos de compensação e benefícios, modelos de planeamento de carreiras e de sucessão ou planos de formação e desenvolvimento, só muito raramente se encontram implementados nas empresas portuguesas. A título de exemplo, só por um grande acaso é que um familiar ou amigo terá o perfil ou os skills necessários para suceder num lugar de gestão e essa, infelizmente, é a realidade de muitas empresas em Portugal.

Processos

Finalmente, o mapeamento e uma avaliação regular com o objetivo de uma melhoria contínua dos principais processos de negócio, é o que permite i) reduzir a variabilidade mantendo a qualidade e a consistência do serviço ou do produto ao longo do tempo; ii) produzir mais com menos recursos; iii) manter baixas taxas de erro e de desperdício; iv) garantir a continuidade das operações; ou v) facilitar a formação e a integração de novos trabalhadores.

 

Em resumo, é condição necessária (não suficiente) para que as empresas portuguesas melhorem os seus índices de produtividade que se saibam organizar melhor e de forma mais eficiente. Contudo, isso só será conseguido quando houver uma aposta na qualidade e na profissionalização da gestão.

 

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